quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Fim de Ano

Fim de ano é quase como fim de festa. Tem o Natal, que seria o equivalente as músicas antigas, que apesar de meio cafonas, todo mundo dança, e adora. Mas tem também todas aquelas coisinhas inconvenientes que rolam quando as luzes se acendem.
Fim de ano, por exemplo, é sinônimo de amigo secreto. Amigo secreto é sinônimo de qualquer coisa que ficará guardada na gaveta dos fundos pelo resto de suas vidas.
Fim de ano também é sinal de trânsito intenso pelas ruas da capital, shoppings igualmente intransitáves e a fila do supermercado que dá a volta no quarteirão.
Fim de ano é época de pegar aquela listinha de resoluções e descobrir que você não fez absolutamente nada do que prometeu ano passado. Não perdeu peso, - pelo contrário, engordou - não mudou de emprego, não manteve suas coisas organizadas, e até a namorada que você tinha te trocou por outro. E queira ou não, é hora de se preparar para o próximo ano.
Então, mesmo quando as luzes se acendem e você percebe que bebeu demais, que talvez não devesse ter roubado aquele beijo, que se arrepende de algumas escolhas que fez, que não anda bem de grana, nem de saúde e nem de relacionamento, quando você se dá conta de tudo isso, se inicia a contagem regressiva.

Dez ... Nove ... Oito ... Sete ... Seis ... Cinco ... Quatro ...Três ... Dois ... Um ... Feliz Ano Novo!


Você já se esqueceu de (quase) tudo o que lhe afligia, e o que sobra são as esperanças de um novo ano que acaba de começar.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Papai Noel Existe?

Acreditar é uma coisa, existir de fato é outra. Devo dizer que a meu ver, o caso do Papai Noel engloba as duas coisas.
Primeiro, é preciso acreditar.
Você pode ter cinco, vinte e cinco ou cinquenta anos, se você não acreditar em Papai Noel,o Natal continuará sendo uma data comercial, criada por multinacionais perversas, onde tudo o que importa são os presentes embaixo da árvore e a comida em cima da mesa.
Por outro lado, se você quiser acreditar, encontrará provas mais do que suficientes de que ele um dia existiu, e que São Nicolau, Kriss Kringle, Father Christmas, Santa Claus, Kerstman, Grandfather Frost, Babbo Natale ou como você prefira chamá-lo, ainda existe, e está em toda a parte.
Seja lá como for, a questão é que ninguém no mundo seria capaz de provar sua inexistência. Logo, é difícil deixar de acreditar numa coisa que em hipótese nenhuma é mentira, estou enganada?
Assim como acreditar em Deus é escolha própria, mesmo não havendo no mundo quem consiga provar sua inexistência. Está certo que tampouco provam o contrário, mas então é aí que entra a fé. E com o Papai Noel é a mesma coisa.
Então, daqui há dez ou quinze anos, quando minha filha vier me perguntar se Papai Noel existe, estarei pronta para responder.

"Papai Noel é tão real quanto as fadas que dançam no jardim, os duendes que somem com suas coisas, a fada dos dentes, as bruxas, o coelhinho da páscoa", direi. "Ele é tão real quanto o amor, o carinho, a fé, a esperança...  Não acreditar em Papai Noel é como não acreditar em nada disso. Poderíamos, se você quiser, ficar acordadas a noite toda, esperando embaixo da chaminé. Ele não apareceria. E o que isso provaria? Talvez ninguém consiga ver o Papai Noel, mas isto não significa que ele não exista. Você pode acreditar no que quiser, mas se vier me perguntar, eu direi: Eu acredito em Papai Noel."

sábado, 26 de dezembro de 2009

Questões Existenciais...

... da época Natalina.

Sentada na mesa da cozinha, olhava aquele frango rechonchudo e pelado na minha frente enquanto tentava descobrir qual seria o melhor jeito de fazer aquilo. Então quer dizer que eu tinha que enfiar minha mão ali e depois... Bem, uma mulher tem de fazer o que uma mulher tem de fazer, mãos à obra, pensei.
Enquanto desossava aquele frango digno de filmes de comédia, começei a pensar sobre coisas que costumam nos afligir na época do Natal. O que é que eu vou comprar de presente pro filho da vizinha? Como era mesmo aquela receita de doce da vovó? Será que se eu comer aquele bolo de frutas eu vou sair muito da minha dieta?
E entre outros pensamentos importantes dessa época natalina, o que me sensibilizou foi: Papai Noel existe?
Quero dizer, quando é que ficou convencionado que Papai Noel surgiria em meados de novembro como esperança e forma de chantagem para criançinhas ao redor do mundo, e desapareceria em dezembro com a promessa de um ano melhor?
Devo confessar que desde criança fui condicionada a acreditar em fadas que dançam no jardim, duendes que somem com as minhas coisas, a fada dos dentes, bruxas - por quem eu sempre tive especial admiração, mas principalmente no coelhinho da páscoa, que é muito meu amigo, já que eu nasci em abril, e no Papai Noel.
Quando lá pelos sete anos começei a desconfiar que seria um pouco inviável para um senhor de seus 80 anos viajar pelo mundo intiro em uma noite, descer pelas chaminés - ou escalar pelas janelas de um prédio, como era o meu caso - e entregar todos os presentes de Natal bem a tempo, fiquei ligeiramente desapontada. Porém, contrariando especialistas que desencorajam os pais a ensinarem os filhos a crer em sua existência por ser uma mentira elaborada e eticamente incorreta, minha mãe continuou enfeitando a casa, montando a árvore e lembrando-me de escrever uma cartinha todos os anos.
Decidi que acreditar ou não dependia somente de mim. E pensando bem, as pessoas acreditam em cada coisa hoje em dia...

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Feliz Natal!

Acabei não postando nada nessas últimas semanas, pré-natal, justo as que costumam ser as mais produtivas pra mim. Entretanto, depois da mudança da Fuvest, da gripe do porco, das aulas de sábado, do enem ser roubado, negociado e abduzido, depois de estudar pra caramba, de todos os vestibulares serem remancados, de passar de ano direto, e finalmente, depois de largar os livros e entrar na faculdade, tenho  tido um tempinho pra ler, descansar e frequentar muito a cozinha.
Hoje em especial. Por mais estranho que possa parecer, algumas idéias bacanas me apareceram às quatro da tarde, enquanto desossava o frango. Escreverei sobre elas em breve.

E enquanto 2010 não chega, eu desejo um Feliz Natal a todos vocês.
Que Papai Noel seja compreensivo, afinal, é quase impossível ser bonzinho o ano inteiro, mas todos merecemos presentes.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Encarar a vida de frente, sempre; encarar a vida de frente, e vê-la como ela é.
Por fim, mesmo sem entendê-la, nunca; mesmo sem entendê-la, aceitá-la pelo que ela é.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Vontade de Filosofar

Começo por admitir a possibilidade do erro de concepção em minha teoria, tentando simplificar ciência que é, na verdade, muito complexa, mas assim mesmo...

Estava esses dias pesquisando a jornalista Márcia Tiburi, e descobri que sua formação é de superior, mestrado e doutorado, os três em filosofia, com especialização em filosofia contemporânea. Assunto que já me interessava, me interessou mais ainda sendo parte importante da formação de uma jornalista tão admirada por mim e outros tantos.
Fui pesquisar um pouco mais, dessa vez sobre a filosofia. Aristóteles dizia que o principal que deve ser visto em um filósofo, é que ele não é um especialista. É alguém cujo olhar se derrama pelo mundo, e cuja curiosidade insaciável leva a busca pelo conhecimento de diversas coisas que dizem respeito ao homem e à sociedade. No fundo, o filósofo é um desvelador, que descobre nossos olhos para o que por conta própria não conseguimos ver.
Platão julgava que a primeira atitude de um filósofo é admirar-se. A partir da admiração faz-se a reflexão crítica, marcando essa filosofia como a busca do entendimento e da verdade. Filosofar é dar sentido à experiência.
Portanto, creio eu, quando escrevo sobre um assunto qualquer, estou fazendo filosofia. Estou lavando o rosto e as mãos, sentando ao computador de alma limpa e cabeça cheia, com experiências e idéias que julgo merecerem reflexão, entendimento ou qualquer outra coisa que me sacie e esgote a curiosidade ou a possibilidade de determinado assunto.
Só quero falar de coisas que me afligem, que me incomodam por serem demasiadamente erradas ou corretas, por estarem diariamente presentes, marcando meu cotidiano sem razão aparente, mas que merecem explicação ou razão de ser. Quero falar daquilo que causa coceira na ponta da língua, ou na ponta dos dedos, e que praticamente me obriga a sentar e escrever, que seja somente uma frase.
Enfim, que sei eu das coisas do mundo, com apenas 17 anos de carreira como ser humano, vivente e pensante nesse mundo pequeno demais? Que sei eu de filosofias analíticas e da metafísica das coisas? Que sei eu de grandes nomes da filosofia, de niilistas, positivistas, ceticistas e o escambau? Sei que nada sei.
Penso, logo existo. Já é mais do que aqueles que apenas vivem. Por que existir de fato, é muito raro.
Então, posso estar errada, mas acredito demais nessa minha filosofia barata de botequim.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

The Ugly Truth

E vero que eu nunca perco uma chance de me meter nestes assuntos do coração. E aparentemente não sou a única. Hollywood está cheia de gente que acha que pode explicar um relacionamento, dirigir um casal apaixonado e criar um script perfeito; baseado em fatos reais. Vide o novo sucesso de bilheterias "The Ugly Truth". É verdade que mulheres são muitas vezes "control freaks", e tratá-las como apenas "romantically challenged" é bondade. Também é verdade que os homens nem sempre pensam com a cabeça correta. Mas outras verdades também devem ser pontuadas...

Muitas mulheres levantam uma bandeira que diz que podemos fazer tudo o que os homens fazem, mas com classe e salto alto. É mentira! Se fosse verdade que as mulheres, depois da invenção do vibrador, não precisam de homens para mais nada, não teriamos tantas amigas em regime de semi-desespero - isso sem falar de nós mesmas. A verdade é que toda mulher gosta de um homem um pouco machista - especialmente quando se trata de Gerald Butler. Que deixe a barba por fazer, tome cerveja no gargalo e te chame de "minha".
É tambem verdade que homens muitas vezes agem exatamente como descritos por Mike, espécie de Hitch, conselheiro amoro às avessas. Porém, clichê em comédias românticas, ele é o tipo "faça o que eu digo, mesmo que eu não o faça."
Curioso pensar também que em cada "men whore" que existe por aí, tem um cara sensível, que já amou e teve o coração partido. Será? Katherine Heigl, ou melhor, Abby, defende a típica posição da mulher emocionalmente madura, cheia de bagagem, - solteira, claro - "Sim, homens são plenamente capazes de amar."
E entre esta última frase e o fim do filme temos vários quotes que valem a pena serem questionados.
Porém, no exato momento, o que não me sai da cabeça é o seguinte: é mesmo preciso uma série de relacionamentos ruins para se reconhecer um bom? É preciso uma série de relacionamentos de qualquer espécie, para finalmente não se sentir inimiga em território de batalha? Será então que relacionamentos são apenas cobaias, uma verdadeira guerra, sexo grátis, um rótulo social, uma demanda, ou todas as alternativas anteriores?
Bem, isto talvez não seja uma verdade absoluta, mas eu ainda vou descobrir...






A Verdade Nua e Crua


Título Original: The Ugly Truth

Gênero: Comédia, Romance

Duração: 97 min.

Tipo: Longa-metragem / Colorido

Distribuidora(s): Sony Pictures

Produtora(s): Lakeshore Entertainment, Relativity Media

Diretor(es): Robert Luketic

Roteirista(s): Nicole Eastman, Karen McCullah Lutz, Kirsten Smith

Elenco: Katherine Heigl, Gerard Butler, Bree Turner, Eric Winter, Nick Searcy, Jesse D. Goins, Cheryl Hines, John Michael Higgins, Noah Matthews, Bonnie Somerville, John Sloman, Yvette Nicole Brown, Nathan Corddry, Allen Maldonado, Steve Little
Estréia: 18.09.2009

domingo, 25 de outubro de 2009

Sábado Anoite

Todo mundo espera alguma coisa de um sábado anoite.

O telefonema da Bia não podia ter acontecido em melhor hora. Ela tem um timing impecável, quase britânico. Eu havia sido chutada. Estava devastada, jogada fora, literalmente. Achei ótima a ideia de sair para um barzinho, tomar uns chopps e chorar as mágoas.
“É amiga, vamos beber, por que amar está foda...”
Fomos. A musica estava alta e o lugar estava lotado. Mas eu ainda me sentia sozinha. Sozinha exceto pela Bia, que sempre estava por perto, e as Margaritas que nos acompanhavam.
Mas, coitada da Bia. A arrasada não era ela, e sim eu, por isso disse que ela estava liberada para paquerar, embora a esta altura eu já estivesse achando que o amor estava só de sacanagem.
Depois disso, quem me acompanhou foram algumas doses de tequila, sal e limão. E vero que alguns caras se engraçaram e quiseram me pagar uns drinks. Fiquei apenas com os drinks.
Devo dizer que a Bia era uma amiga boa demais para me deixar naquela situação sozinha. Por isso, não demorou a voltar. Foi ela que bancou as caipirinhas e ficou lá, ouvindo tudo o que ele me disse e não deveria ter dito e o que eu não tive coragem de responder mas deveria ter respondido. Eu falei, falei e falei. Não sei ao certo se foi toda a bebida, ou alguém desligou o ar condicionado, mas comecei a ficar com um calor insuportável. Primeiro foi embora meu casaco. Depois, calculei que se tirasse a blusa, o top que usava por baixo não ficaria assim, tão mal. E outra, grande merda, é só um top. Mas sabe com é homem, né?! Só pensa com a cabeça de baixo...
Aquela luz piscante estava me embrulhando o estômago. Ou talvez fossem aquelas batatinhas que eu comi... E o calor, aquele calor que não passava. A música alta nos meus ouvidos, e minha cabeça girava. Já não sentia mais meus pés nem meus lábios.
Senti porém algumas lágrimas que não consegui segurar. Graças a Deus eu tenho a Bia. Em tempo récorde ela pagou a conta e nos conseguiu um taxi. A próxima coisa de que me lembro foi a pia. A pia bem perto de mim, e Bia segurando meu cabelo para trás.
E a sensação era horrível. Aquilo não era eu. E foi tão rápido, irreverente, quase como... Como o que foi e não deveria ter sido. Vomitei as batatinhas. Vomitei os chopps, as margaritas e as tequilas. Os drinks e as caipirinhas. Vomitei tudo. E depois, fazendo um esforço ultra-humano, como algo que saiu, mas que nunca deveria ter saído, como alma que se esvazia por completo, vomitei ele, vomitei o amor.

sábado, 24 de outubro de 2009

Afinidade.




Afinidade acontece. Um mesmo signo, um mesmo par de sapatos caramelo, um mesmo livro de cabeceira. Afinidade acontece entre seres humanos. A mesma frase dita ao mesmo tempo, o diálogo mudo dos olhares e a certeza das semelhanças entre o que se canta e o que se escreve. Afinação acontece. Um mesmo acorde, um mesmo som, uma mesma harmonia. Afinação acontece entre instrumentos musicais. A mesma nota repetidas vezes, a busca pela perfeição sonora e a certeza das similaridades entre um tom acima e um tom abaixo. A incrível mágica acontece quando os instrumentos musicais descobrem afinidades humanas entre si no mesmo instante em que os seres humanos descobrem afinações musicais dentro deles mesmos.





/oteatromagico.mus.br

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Vagens Secas

A paisagem era linda, embora um tanto quanto quanto apocalíptica. O céu estava muito escuro e ouviam-se alguns trovões. Em algum lugar distante sentei-me no parapeito da janela, hipnotizada pela cena. Ao fundo, em um morro descampado, uma grande árvore retorcida balançava seus galhos loucamente. Em cada ponta um grupo de vagens secas se chacoalhava, imitando o barulho da chuva. As vagens queriam chover.
Desci as escadas da sacada vagarosamente. tirei os sapatos e fechei os olhos. Caminhei um pouco pela grama e sentei-me no chão. Secretamente desejei que chovessem vagens secas. Quando abri os olhos novamente, vagens secas se soltavam da ponta dos galhos e cobriam o céu como pequenos pássaros em revoada. Torciam e retorciam no céu as vagens secas. E caiam suaves na grama, sobre meus ombros, em meu colo. O céu estava escuro, mas para mim era lindo.
Gotas pesadas de chuva começaram a cair. Molharam meus cabelos, borraram meus olhos e encharcaram minhas roupas, mas não me chateei por que eram de água. As vagens secas já tinham chovido para mim.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Seja e Deixe Ser

Não. Por favor, não pare. Não se deixe distrair por meus olhos, que observam atentos cada movimento, nem por meu silêncio, que nada diz e tudo fala. É que gosto de ver os outros sendo.
Tão compenetrado fazendo qualquer coisa, alheio a todo o resto do mundo, que também está alheio a si. É curioso ver como as coisas, por mais interligadas que sejam, existes independentes. Se eu parar de existir, nada para de existir comigo, que não fosse previamente eu, ou meu.
Se eu parar de existir, as cores que vejo deixarão de ser vistas por mim também, mas a rosa continuará vermelha. Se eu parar de existir, os sonhos que tenho deixarão de ser meus sonhos, e serão por outro, sonhados. Se eu parar de existir, o lugar que ocupo no tempo e no espaço tornará-se vago, livre. Se eu parar de existir, meus olhos minhas mãos, meus sentidos também se apagarão. Os amores que sinto deixaram de ser meus amores, mas não tardarão a ser amados. Se eu parar de existir o mundo continuará existindo, tão ou igual ao meu, sem mim. O sol irá se levantar todas as manhãs, e milhares de pessoas se levantarão com ele. E darão início a um novo dia sem mim. E este dia passaria rápido, dando lugar a noite. Uma noite alegre. E o copo da bebida que tomava não deixará de ser usado, na mesma mesa de bar. Alguém se embriagará de meus pesares e se encontrará no fundo de um copo que já me serviu de lente também. E então, a lua irá se apagar, e os outros irão dormir o sono dos justos, para se levantar mais uma vez, para o novo dia que amanhece. E ninguém para ou repara, que anoite, no céu, uma estrela se apagou.
Meu passatempo preferido, quando estou no apartamento - como resistência à vontade de cuspir do quinto andar na cabeça de todos lá em baixo - é olhar pela janela. Vejo as pessoas indo e vindo, fazendo coisas, falando coisas, comendo coisas... Sendo. Gosto de ver os outros sendo.
Independente de mim ou do resto.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Felicidade

Felicidade, é uma dama que bate à porta...
Feliz é o que voce percebe que era, muito tempo depois do que já foi. Mas será que não há modo de se perceber quando a felicidade finalmente bate à porta? E justo nos dias de hoje, quando deve-se manter cada porta bem fechada, como parte de nossa insegurança privada... Quem sabe então uma fresta... A felicidade é como um matinho, uma erva daninha, que nasce em qualquer brecha, em qualquer canto. Mas a gente nem percebe. Antes mesmo que ela floreça a gente já vai logo arrancando e cobrindo de asfalto.
A gente passa a vida atrás dessa tal, sem perceber que a felicidade não é o encontro, mas a busca. A hora do encontro vem depois, quando já estivermos cansados demais, cheios de tanta felicidade que foi, ou deveria ter sido a vida.

E que sei eu da vida, da procura ou do encontro?
Sei o que me disseram uns amores, uns poetas delirantes, que a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.

E que sei eu da felicidade?
O que me disse a própria vida. Que geralmente, a gente é tão feliz quanto deseja ser. E você, já foi feliz hoje?

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Coração Andarilho

Meu peito inflama. Minha boca arde. Meu coração cansado bate.
Hoje tenho os pés cansados de um coração andarilho...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Sexto Capítulo - Entre Sobremesas

(um post comestível sob qualquer ponto de vista.)

Existem tipos e tipos de mulher. Bem como tipos e tipos de sobremesa. Não sei se vocês se lembram da tragicômica cena protagonizada por Julia Roberts e Cameron Diaz, em “O Casamento do Meu Melhor Amigo”, em que as duas discutem sobre pedir Cremme Bruleé quando na verdade, o que você realmente quer é gelatina. Nem preciso dizer que Julia é gelatina. E, se fossemos dividir as mulheres nestes dois grupos, a mulher gelatina seria bem diferente do que seu nome propõe.
Pode até ser difícil de explicar, tendo em vista que atualmente tudo o que é alimento vira atributo de mulher, especialmente as frutas. Mas é só olharpara Julia Roberts qu você entende. Enfim, a pergunta é: Por que no fim das contas a gelatina não vence o Creme Bruleé? Bem, se você já assistiu ao filme, sabe que o bonitinho fica com Cameron Diaz. Eu realmente não entendo.
O Creme Bruleé é sim, delicioso. É chique e sofisticado. O creme é doce na medida certa. Porém, o creme também é um pouco óbvio. Colocando em termos que você certamente irá perverter, esta é uma sobremesa que, depois que você come a casquinha, o resto pode até deixar no prato.

Pois é. A gelatina não. Pra começo de conversa, gelatina é prática. Ela é, na verdade, exatamente o que você queria. Quando dá aquela vontade, sabe? É ela. A gelatina é, acima de tudo, confortável. É de uma cor vibrante, alegria jovial. Descolada, super diferente daquela outra sobremesa, que, diga-se de passagem, era sua preferida. Ou não? Então, se a perfeição do creme bruleé cansa, e além do mais, custa bem mais caro, porque não escolher a gelatina?
Assisti o filme novamente e devo dizer que não me desapontei. O final não muda nunca. É, acho que algumas pessoas simplesmente não tem bom gosto no que diz respeito a comida. Ou ao resto...

sábado, 22 de agosto de 2009

Para Fazer Gostar de Teatro

O Teatro Sesi orgulhosamente apresenta: Tristão e Isolda!


As luzes se apagsm e Tristão (Lorenzo Martin) aparece, de joelhos no palco. No instante seguinte, cerca de 20 atores transformam a calmaria do palco num verdadeiro campo de batalhas, e logo em seguida, numa animada festa no Reino de Cornoalha.
Adaptada brilhantemente por Vladmir Capella (também responsável pelo grande sucesso de "A Flauta Mágica") , a lenda medieval de Tristão e Isolda, que ficou conhecida após a consagrada opera de Wagner (1813-1883) datada do século VII, ganha nova vizualização aos olhos de jovens que participam do projeto Sesi para a formação de novo público para o teatro.
Tratando sobre temas universais e atemporais como amor, morte, loucura, desejo e traição, mas, sobretudo, valorizando um tema recorrente em sua obra, "o papel da arte", Vladmir apostou alto. Com jogos de sombra, trocas de figurino extremamente rápidas, cenário muito bem montado, velas que surgem do chão e uma plataforma giratória utilizada pelos atores no clímax da montagem, J.C. Serroni e Telumi Helen, responsáveis pelo trabalho atrás das cortinas, estão de parabéns! O cenário passa de densas florestas a ambiente de festas rapidamentem e isso se dá graças aos maquinários do Sesi, que neste aspecto é um dos melhores teatros de São Paulo.
Em sumo, a peça reune 110 minutos de uma história fascinante, bons atores, beleza e emoção, tudo em um pequeno palco que encanta os olhos de milhõs de espectadores.
Renata Calmon, Lorenzo Nartin, Kiko Pissolato, Monalisa Capella e grande elenco entam em cena para serem aplaudidos de pé e reverenciados com mais este clássico romançe lendário.
Provado e aprovado!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Sociologia

As aulas de sociologia sempre me instigam a escrever. Plantam sementinhas de dúvidas e incertezas dentro de mim. Fazem-me pensar. Hoje o tema foi “Relação Social”.
A Relação Social é dividida em dois patamares. Pode ser uma relação social primária, entre duas pessoas, ou secundária, entre dois papéis sociais. Leia-se, uma relação “A amiga que sempre ajuda – A amiga que sempre se mete em encrenca” ou uma relação “Menininha Feliz-Vendedor de Flores”. Por que deve ser um ou outro? Não pode ser um e outro? Por que a menininha feliz – caso um dia esteja triste – não pode ir até a banca de flores conversar com o vendedor?
Uma relação primária traz consigo o afeto e a intimidade; são nossa família, nossos amigos. Uma relação secundária é o cobrador do ônibus, é o gerente do banco, a mulher da limpeza. Seus nomes? Não têm nomes. São ações, papéis, empregos.
Por que se julga que quando uma relação secundária transforma-se em primária, as coisas fogem do controle? Aposto que o vendedor de flores teria bons conselhos para dar à menininha, sem que isso afetasse em nada a floricultura. Pelo contrário. Acompanhem o raciocínio: Se a menina que estava triste por causa de um coração partido ouve os conselhos do vendedor – que à essa altura já devia ter um nome – ela volta a ficar feliz e segura de si. Segura de si, ela fica mais bonita. Mais bonita, arranja namorado. O namorado compra flores e o vendedor sai até lucrando na história!

Mas nããããão as regras sociais parecem muito boas, já que estão aí faz um tempão e ninguém se importa. Não acho que vá fugir do controle. Afinal, se algumas pessoas fossem menos profissionais, receberíamos mais “Bom-Dia”, mas sorrisos. Conseqüentemente nossos dias seriam mais alegres, nossa alegria contagiaria os outros, e o mundo pareceria um comercial de coca-cola. Nada mal humn?!

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Capítulo Cinco - Batatas Podres

(A saga sobre comida está de volta!)

Era mais um domingo a noite qualquer, daqueles em que o completo ócio toma conta de mim. Inesperadamente, inédita no Discovery Travel, Ruth Reichl. Há tempos que não pensava nela... Seu último livro emprestei a uma amiga. O outro, creio eu, foi soterrado por livros e poeira em alguma prateleira de minha estante. Com o término de minha saga sobre este tema e o fim do estoque de idéias e mantimentos na despensa, parei de filosofar sobre comida.
Até, claro, que ela volta, estrategicamente falando-me sobre batatas podres.

A Receita:

1. Pique batatas. ( a quantidade que julgar necessário)

2. Misture uma colher de sal, duas de açúcar e meia xícara de fubá.

3. Acrescente água quente e deixe descansar, dentro do forno desligado por cerca de três horas.

4. Retire as batatas e reserve o líquido. (Não se assuste com o cheiro, que beira o insuportável)

5. Acrescente quatro xícaras de farinha, misture bem, cubra e deixe fermentar.

Quando a mistura estiver pronta (leia-se: podre), adicione outros ingredientes necessários para fazer pão caseiro. O resultado, evidentemente, é delicioso. Nenhum gosto é tão clássico ou reconfortante quanto ao do pão de batatas podres. E nenhum outro pão tem aparência tão bela.
Quando o programa acabou, me peguei pensando sobre essa questão um tanto... Filosófica. É difícil conseguir ver em algo podre, a possibilidade de algo bom, belo e verdadeiro. Assim como nas pessoas, é difícil encontrar valores clássicos, que em muito diferem dos valores vigentes hoje em dia.
Outra possibilidade: É justamente a parte podre que trás o sabor tão especial. São nossas falhas que nos fazem interessantes, nossos pecados que nos fazem saborosos.
No fim das contas, se tivermos jeitinho e paciência, é incrível o que podemos criar com qualquer espécie de comida. Deste modo, se investirmos tempo e cuidado em alguém, é também inacreditável o relacionamento que se pode construir. Por que um relacionamento é assim mesmo, como uma receita. Vai-se adicionando pouco a pouco cada ingrediente, nas quantidades necessárias. Às vezes é necessário deixar descansar por certo tempo. Devemos ter cuidado e atenção para não cortar as mãos, para não queimar os dedos. Mas apesar de levar tempo para ficar pronto, o resultado é sempre delicioso.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Dia dos Namorados

Há quem diga que é só mais uma daquelas datas comerciais, criadas só pra fazer dinheiro - e para fazer com que nós, os singles, nos sintamos mal-amados, é claro. Bom, eu concordo plenamente. Pra quem namora, o dia dos namorados é todo dia, não é mesmo?
Bom, pra mim, há alguns anos que essa data passa completamente batida no calendário. Eu ignoro. Vou ao cinema e finjo que não vejo quando o filme acaba, todos os casais que sempre ficam um pouquinho a mais dentro da sala. Vou jantar fora e vejo que sou a única que não pede mesa pra dois e não divide a sobremesa - por que se for pra quebrar a dieta, eu quebro direito né?!.
Apesar dos pesares, de querer sair por aí queimando os cartõezinhos de dia dos namorados, de fazer passeata contra essa banalização e comercialização do amor alheio, eu fico bem quietinha no meu canto. Por que no fundo, bem no fundo, eu - e todas aquelas pessoas com mensagens engraçadinhas sobre os solteiros no subnick do msn e afins - sentamos no sofá ao final do dia, recostamos a cabeça na almofada, secretamente desejando que fosse o ombro de alguém.
Eu e todas estas aí pensamos como seria legal ter alguem pra passar essa data ridícula que é o dia dos namorados...

quinta-feira, 11 de junho de 2009

No Parapeito da Janela

Fazia um dia feio e triste lá fora. Uma folha de papel saiu voando pela janela e caiu no chão. Gotas pesadas de chuva borravam tudo o que um dia tinha sido escrito. Pareciam lágrimas. Mas quem via de longe, só via uma folha de papel molhada.
Bateu o sinal. As crianças saíram correndo, e quando a manada finalmente passou, a folha nada mais era do que alguns pedaços de papel sujo, onde nada mais se podia ler.
Mas alguém observava. Alguém sabia o que ali havia sido escrito, um dia.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Provocação

É um acendimento de qualquer coisa dentro do peito.
Uma cutucada no desejo. A vontade de um beijo.
Uma captação de qualquer coisa imperceptível,
Como uma faísca, entre duas pessoas.
É um desafio. É como abrir os olhos.
Abrir as mãos, abrir os braços, abrir as pernas.
É olhar, e não poder tocar. Tocar e não poder sentir.
É ter por perto, e querer mais perto, do lado de dentro.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Fragmento

Abri os olhos. Meu corpo todo estava em êxtase. Era como se um milhão de estrelinhas me pinicassem, me fizessem levitar. Senti-me tomada por uma felicidade que veio subindo por dentro e tomou conta de mim. Virei-me na cama e toquei seu corpo quente, adormecido. Tentei lembrar-me de qualquer coisa acontecida na noite passada. Nada. Olhei em volta. O quarto era razoavelmente grande. Havia uma cama enorme, desfeita, evidentemente. O cinzeiro estava cheio, os cigarros transbordavam e as cinzas caiam na cama. Eu olhava para a garrafa quase vazia de whisky, e para o par de copos ao meu lado.
Levantei-me devagar e cobri meu corpo com a primeira coisa que consegui alcançar: uma camiseta surrada dos Rolling Stones. Fui ao banheiro e quase não acreditei no que via diante do espelho. Meu cabelo era um coque frouxo acima da cabeça. Meus olhos, duas manchas escuras, e todo o resto estava um caos. Apesar disso, o conjunto da obra até que fazia sentido. Congruente com o ambiente, e com a minha ressaca. Haviam pequenas marcas, aqui e ali, do que foi, ao que parece, uma noite longa, muito longa, e mal dormida.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Arte que Imita a Vida

Tema atualíssimo no Brasil e no mundo, os Reality Shows viraram uma espécie de febre que atinge todas as camadas sociais e as mais diversas faixas etárias. Apoiados na vida real, a proposta dos mais diversos programas que se encaixam nessa categoria é mostrar ao telespectador situações e problemas reais, bem como a reação das pessoas expostas a essas complicações.
Como exemplos, temos uma infinidade de programas nas mais diversas partes do mundo: Britain’s Got Talent, Hell’s Kitchen, American Idol... Podemos observar em todos eles algo em comum – pessoas competindo para atingir um objetivo – seja tornar-se uma celebridade reconhecida por seu talento musical, abrir o próprio restaurante, conseguir um emprego em uma grande firma, e assim por diante.
No Brasil também temos uma programação que, apesar de não ser infinita, atinge incríveis números de audiência. Nosso exemplo disto é o BBB. A família toda reunida para assistir o dia a dia de ilustres desconhecidos que, se você encontrasse na rua não saberia distinguir. É a “celebrização” do trivial, do inculto, do inútil. E mesmo assim, o programa já chegou a sua nona temporada.
Talvez a crítica que eu esteja tentando exprimir não esteja propriamente nos participantes do programa. Estes, pobres coitados, muitas vezes sonham com a fama a qualquer custo, tem de encarnar estereótipos sociais que nem sempre se encaixam em sua verdadeira personalidade, e tudo por uma oportunidade, mesmo que breve, de uma reviravolta no futuro.
A grande diferença está sim, no telespectador. O sucesso do programa está justamente no alto índice de audiência, na incrível quantidade de desocupados que se prostram na frente da televisão para assistir coisas que sequer merecem ser televisionadas e não fazem jus a sua audiência. Então, minha sugestão é a seguinte: mude de canal. Ou, melhor ainda, vá ler um livro.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

He's just NOT that into YOU.

Desde pequenas nós, mulheres, somos condicionadas a um pensamento diga-se de passagem, muito pouco racional. Vem aquele pentelho do seu coleguinha de sala e puxa a sua trança. Uma, duas, três vezes. Ele diz que te odeia, que você é feia e burra, e você acredita. Chega chorando em casa, e sua mãe, na melhor das intenções diz, como se estivesse te revelando uma sabedoria milenar: "Ele faz isso por que ele gosta de você!" O que na nossa cabeça de 8 anos faz todo o sentido do mundo. Está explicado! E é aí que começa o problema. Somos então, condicionadas a gostar que quem nem nos dá bola. De um moleque pentelho que realmente odeia você, acha as suas trancinhas a coisa mais ridícula do mundo, e riu de você quando você esqueceu a fala do poema na frente da sala toda.
E este "ensinamento" é uma coisa que (infelizmente) levamos para o resto da vida. Veja só:Você conhece um cara. Ele é bonitinho, super legal com você, interessante de verdade, não é infantil como todos aqueles outros idiotas com quem você se relacionou e já teve um outro relacionamento (leia-se: não tem fobia de compromisso). Você realmente gosta deste cara, mas não consegue saber se ele está ou não afim. (é aí que a sabedoria milenar entra em ação) Você inventa desculpas para a indecisão do cara: decide que ele está confuso, que tem traumas do ultimo relacionamento, que ele tem vergonha de ser romântico, que tem dificuldade em mostrar seus sentimentos, e por aí vai...

E de rodar em cima deste assunto, eu fico exausta. E o que cansa é na verdade, esse relacionamento cheio de joguinhos. Por que dizemos não quando a intenção na verdade é dizer sim? Por que "dar uma de difícil" ? E mesmo que toda nossa índole seja contra este tipo de comportamento exaustivo e sem sentido, acabamos por nos render a estes jogos imbecis, com medo de quebrar a cara. E frente a tudo isso, existe uma reação bem mais simples: sinceridade.
Mas se apesar de todos os jogos, das diretas e indiretas, nada acontecer, caia na real, ele simplesmente não está tão afim de você.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Sabe,

Eu só queria dizer. Por que a gente nunca diz, né?
Você sabe, o estritamente essencial, aquilo que tem que ser dito.


A gente nunca diz.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

O Tempo

Batidas na porta da frente, é o tempo...
E que tempo é esse? Por vezes tão sensato e cuidadoso, curando nossas feridas. Tão compreensivo, dando a nós mesmos nosso próprio momento. Dê tempo ao tempo, é o que todos dizem. E a gente dá. E vai dando. Até que dá ao tempo, todo o tempo do mundo, e não nos resta nada.
O tempo, uns dizem que se ganha. Ganha-se tempo tomando um atalho. Outros dizem que se perde. Perde-se tempo sozinho num labirinto. No fim, todo esse tempo é tempo passado. Tomou-se o atalho, perdeu-se no labirinto e no fim... No fim? Cada um está onde deveria estar, e onde estará, sob quaisquer circunstâncias. O que acontece é o momento no qual você chegou.
E é destes momentos que é feita a vida. E quando deixamos estes momentos passarem, culpamos o tempo.
Não há neste mundo um espaço de tempo que possa me fazer deixar de ver o que está diante de meus olhos. Não irá me fazer deixar de sentir o que amo, e de amar o que sinto, e de desejar o que quero, e de contar os minutos para que o momento certo chegue.
Mas depois, descubro que não há momento certo. De fato, não há momento algum, senão o presente momento. E se não fiz quando era presente, agora não há nada a se fazer, só a se lamentar.
Não é o tempo que muda, são as pessoas. São experiências que nos transformam, abismos que nos alertam, tapas que nos fortificam, e pedras que edificam uma escada, na qual só se pode subir. Sempre enfrente e nunca para. Essa é a nossa escada. É o tempo, o momento.
Mas não se preocupe. Se esse momento passou, outros momentos virão.

quinta-feira, 19 de março de 2009

PopArt

3Era uma mão estendia. Um contorno de unhas pintadas, de olhos pintados, de corpo pintado. Olhava diretamente para mim. Olhava? Será que realmente me via? Isto é, podia ver? Sorri meio sem graça. Ela estática, física, geométrica. O corpo milimetricamente desenhado, saído de uma história. De ação, de romance, de ficção talvez... Fictícia ela era? A mão ainda estendida.
Voltei à banca algumas vezes para comprar jornal, dissimular que queria encontrá-la novamente, que via a mão ainda estendida. Sempre. E foi num desses dias em que resolvi arriscar.
Olhei diretamente em seus olhos. Ela me olhou ainda mais fundo. Toquei a parede, o papel, sua mão fria. Apertei o papel e foi quando eu percebi. Ela apertou meus dedos de volta . Foi só um puxão e ela estava do meu lado. Ali, me encarando, parecia mais real do que nunca. Vendia-me algo? Comprava-me? Só custou um olhar, ela me ganhou.
Também para ela era uma novidade. Sentir outra pessoa, ouvir o caos da cidade que sempre esteve ao redor, o vento em seus cabelos, enquanto eu dirigia rápido pela rodovia. Tudo ganhava cor.
Rápido, rápido, mais rápido, até que tudo ao redor não passasse de borrões, que poderiam ter sido desenhados por uma criança de três anos. Ela era leve, tão leve que quase borrava também. Quase sai voando.
Levantei a capota do carro, mas ela pediu que não. Queria sentir o vento, que logo ficou mais forte e transformou-se em chuva. Gotas grandes e pesadas, caíam sobre sua face, apagando seus contornos.
Retornamos rapidamente à banca e antes que eu pudesse sentir o que é um beijo das histórias contadas nos livros, um beijo roubado, ganhado, comprado, que seja, um beijo qualquer, ela já estava de volta. Seu cabelo desarrumado por causa do vento. Seus olhos pintados estavam borrados. Era por conta da chuva? Eram suas lágrimas? Tinha lágrimas?
Me perguntava se nos veríamos novamente. Ela estava me observando do cartaz. Eu continuei andando, mas ela não me seguiu.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Deus

Se me fosse essencial definir, por algum modo ou ritual, uma crença ou religião, me parece muito mais lógico crer em Deuses, não em Deus.
A começar pelo fato de que me é muito difícil imaginar um só Deus que tenha o domínio sobre todas as coisas do mundo, que seja onisciente, onipresente e onipotente. Esse é um tipo de perfeição impossível, inexistente e incabível. Não acredito em um Deus que castigue, que não acolha, que pratique vingança, e principalmente, que segregue a todos que não crêem em si. Não quero um Deus que, mesmo certo e justo, apanhe do errado e injusto, e que ofereça a outra face, sem nunca revidar. Não, não quero este Deus.

“Quero um Deus que saiba dançar” dizia Nietzsche. Eu quero um Deus que dance. Quero um outro que cante. Quero um Deus que toque guitarra, um Deus que conheça os vícios do mundo e um que conheça o prazer que habita o fundo de um copo. Que conheça as viagens que se faz sem sequer sair do lugar. Quero um Deus que cometa erros, enganos. Quero um Deus que não tenha medo de admiti-los. Quero um Deus que ame profundamente, mas que ame um amor feito de carne e osso, e não de uma fé louca e sem graça. Quero que ele sinta ciúme, que deseje vingança, que grite a plenos pulmões. E então, são quinhentos outros Deuses que desejo. E cada um, um tanto maior, mais humano, mais real, mais perto de mim. Quero um Deus que seja possível.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Capítulo Quatro - Conforte-me com Maçãs

(da saga sobre comida)

“Sustente-me com passas,
conforte-me com maçãs,
porque desfaleço de amor”

Cântico dos Cânticos

Em seu livro, Ruth Reichl descreve uma receita de cogumelos que diz ser perfeita para quem precisa de consolo. Durante o outono inteiro a sopa serviu de conforto a uma mulher que perdera o pai, separava-se do marido e lidava com uma mãe maníaco-depressiva falida, a beira de um abismo. Apesar do título do livro, Reichl conforta-se com cogumelos. Já eu, mantenho-me fiel, e conforto-me mesmo é com maçãs. Minha mãe, ao parar de trabalhar, passou por todo o tipo de fases. Achou que teria todo o tempo do mundo para fazer suas coisas, mas logo tornou-se absorta por seus projetos para futuro e percebeu que não tinha tempo pra nada.
Uma de suas fases foi a da cozinha. Estava sempre com desejos de comer este ou aquele prato diferente, e a cozinha sempre cheirava maravilhosamente bem. Adorava quando falava-me de receitas que fazia quando morou na Austrália, ou das coisas que comia quando era criança. De algum modo, a receita de Apple Crispy entrou em nossa conversa, e como tudo o que tínhamos na cozinha eram maçãs e o absolutamente necessário para fazer a torta, decidimos testá-la.
Era novembro, mas ainda estava frio. Chovia fino lá fora, uma chuvinha chata, tocada à vento, e eu podia ouvir o barulho do tempo. O relógio tiquetaqueando enquanto eu tentava ler. Andava triste com não sei o quê. Quando uma amiga nossa chegou e os cachorros começaram a latir, eu ainda estava no banheiro tentando consertar o que sobrara do meu cabelo. Ele costumava ser uma massa sem brilho amontoada em minha cabeça, até que resolvi mudar. Ele estava simplesmente espetacular depois do primeiro corte, mas três meses depois, quando voltei ao cabeleireiro com a intenção de copiar o antigo corte, o resultado foi simplesmente um desastre.
Conversa vai, conversa vem, e eu, assim como o dia lá fora, continuava cinza. Eramos três, sentadas à mesa da cozinha, quando olhei para as maçãs e decidi que aquilo ipoderia ficar divertido. Todas concordamos que fazia a temperatura ideal para um café com torta, e lá fui eu cozinhar. Comecei a preparar a massa e tudo corria bem, até a hora de descascar as frutas. Cortei-me na maçã número um e lá pela maçã número três eu desisti. Elas se pareciam com algo disforme, com pedacinhos de casca vermelha ao redor.

Chamei minha mãe para ajudar, e ao dar uma olhada no caos que me rodeava ela irrompeu em risos. Logo éramos três Amélias, apoiadas no mármore da pia a fofocar, descascar maçãs e untar assadeiras. Esperamos a torta ficar pronta, e ao provar o primeiro pedaço, já havia me esquecido da tristeza, e o desastre que habitava minha cabeça parecia agora insignificante.
Era como sentir o gosto de um abraço, e o sabor daquela torta inundou a casa inteira e a nós três. Ao chegar no fim da torta, estava com calor, completamente consolada e alegre. O dia não parecia mais triste, e sim aconchegante.
Repeti a receita quase um ano depois, quando fiquei sabendo que uma amiga se mudaria de colégio. Achei que ela precisaria de conforto. Quando ela veio me ver e a torta ficou pronta, dei a primeira garfada e o gosto de maçã, canela e noz-moscada invadiu minha alma, percebi que quem precisava de conforto, mais uma vez, era eu. E foi incrível como a torta funcionou.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Terceiro Capítulo - Outro Tipo de Café

Os cafés de Starbucks, nem de perto tão bons quanto os de Paris, também deixaram boas memória. Eram dias de liberdade absoluta, quando descia do apartamento da minha tia, em Manhattan, pegava um “hot Starbucks” e saia sem destino e desacompanhada pelas ruas de New York.
Tinha todo o tempo do mundo, e qualquer lugar para ir. E deste modo, muito rapidamente Nova Iorque se tornou um de meus destinos preferidos. É claro que não foi apenas pelo – péssimo – café que meu coração se derreteu. Além de todos os lugares maravilhosos para se conhecer, também foi pelo Apple Sider que me apaixonei.
Bem parecido com nosso vinho quente, mas sem a parte do vinho, é uma espécie de chá de maçã com canela e gengibre, misturado dentro de uma caneca e servido extremamente quente.
Quando provei meu primeiro copo, perto da pista de gelo no Bryant Park, foi como experimentar o gosto de uma tarde de outono num gole de chá que queima a língua, e ao fim desta mesma temporada, ao tomar meu último Sider, minha boca, que já estava acostumada as queimaduras e ao aroma doce que exalava o copo, sentiu-se triste e enjoada por ter que tomar todo o resto de outono em um único gole.