sexta-feira, 30 de abril de 2010

-Eu te amo.

-Não, não ama.

-Amo! Amo sim!

-Não me ama nada...

-É claro que te amo!

-Se amasse mesmo, eu saberia.

-E o que é que eu posso fazer pra te provar?

-Você  pode começar por me chamar pra sair...

- Não chamei por que achei que minha chance era mínima.

-Mesmo mínima, ainda assim é uma chance. Por que você não tenta?

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Tout Va Bien

Não demorou muito e os assuntos entre nós começaram a se repetir. Daí à ficarmos sem assunto nenhum, foi um pulo. Depois, veio o silêncio, e aí, já nem precisávamos mais conversar.
Eramos como o pão velho em cima da mesa. Além dele, das paredes e do carpete, nós também estávamos mofando, sem pressa, como a chuva que caía ha três dias, e escorria vagarosamente do outro lado da janela.
Era estranho não ter assunto entre duas pessoas que nunca ficavam quietas, que tinham uma vida inteira em comum. Será que o amor tinha acabado? A resposta até existia, mas morava alí, naquele silêncio incômodo e ardido aos meus ouvidos.
E em silêncio ficamos, assim, nos olhando. Olhos nos olhos e o silêncio todo ao redor. Estiquei minhas mãos sobre a mesa da sala de jantar, mas estavamos muito distantes, inclusive de nós mesmos. E simples assim, nós já sabíamos o que viria a seguir.
Mais tarde, na cama, virei-me para o lado e desejei-lhe boa noite. Ele desligou a t.v. e caimos no sono. Eramos um casal com cara de domingo.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Cinco Motivos pra Detestar Segunda-Feira

Tudo tem um motivo. Aí vão os cinco motivs pra você concordar comigo quando digo que segunda-feira é um dia detestável.

1. Nada acontece na segunda-feira.
Você já viu alguém casar na segunda? Já viu alguma inauguração, palestra, evento, festa, noite de autógrafos ou qualquer coisa interessante numa segunda? Já presenciou algum fato realmente memorável que tenha acontecido neste dia infame? Como eu suspeitava...

2. Tudo acontece na segunda-feira.
Por outro lado, segunda-feira é sempre prazo de entrega de algum trabalho cujo tema só vai lhe ocorrer no domingo anoite. Segunda é o dia em que as secretárias ficam doentes, acaba a luz e seu computador pifa. Segunda de manhã, então, é o ápice das desgraças. É o dia de perder a hora, sair de casa com a camisa do avesso e a cara amassada, chegar no trabalho e ter reunião com o chefe. Ninguém merece.

3. Segunda-feira é dia de ressaca.
Você saiu no sábado e bebe utodas. Passou o domingo dormindo, e acordou só na segunda-feira, na hora de ir trabalhar. Segunda por tanto, é dia de ressaca. Por sí só, isso já é detestável. Mas além de estar de ressaca, você ainda tem que acordar cedo e se dirigir a um local ( escola, escritório, hospital, ) no qual você certamente não gostaria de estar.

4. Nada funciona na segunda-feira.
Pra começar, seu cérebro. Porque convenhamos que o de ninguém funciona no melhor dos estados numa segunda-feira de manhã. Além disso, são vários os estabelecimentos que são essenciais para a existência de um ser humano que permanecem abertos no fim de semana e folgam (in)justamente na segunda. E quando, no caso desta semana, especificamente, você resolve ir ao cabelereiro pra ver se ele dá um jeito nesse seu visual 'ressaca-de-segunda-feira' por que quarta-feira (um dia bem mais decente que segunda) é feriado e você quer sair logo na terça, você descobre inclusive que... o cabelereiro não funciona de segunda. O ó.

E finalmente, o detalhe mais detestável de todos os motivos que fazem da segunda-feira o dia mais inútil da semana:

5. Segunda-feira é muito longe de sexta-feira.
Chegou sexta e você saiu. Sábado idem. Domingo você dormiu o dia inteiro, como já foi dito acima, porque afinal, ninguém é de ferro. Acordou de ressaca na segunda, quando você já estava quase se esquecendo de que tinha chefe, compromissos e contas pra pagar. E por mais que você relute em aceitar, segunda ainda está muito longe de sexta-feira. Não bastasse isso, é tão longe que nem os prospectos do fim de semana você tem. Os convites pra sair só chegam, a via de regra, depois de quarta-feira - no mínimo. Então, você já começa a semana acreditando que o pior vem pela frente. E pesquisas apontam: até o fim da segunda-feira, você tem 98% de chances de acerto.

sábado, 17 de abril de 2010

A Verdade

Acho que eu não saberia dizer o que é, nem se ela andasse por aí com um daqueles esmaltes cor de neon, se esfregando na minha cara.

É o que acontece na maioria das vezes. Não sabemos dizer o que é verdade e o que não é.
Se parássemos um instante para analisar os fatos e fazer duas listas comparativas, de lados distintos de uma folha de papel, perceberíamos que o que é verdade está sim andando por aí, com uma melancia amarrada no pescoço. A verdade é facilmente identificável.
Porém, o que acontece é que ela costuma se misturar com o que gostaríamos que, de fato, ela fosse. Ela chega toda enfeitada numa festa que está lotada, e se perde lá no meio, flertando com outras abstrações. E nunca sabemos se ela quer mesmo pagar pra ver ou se não está muito interessada.
Temos essa mania de achar que a verdade é misteriosa, que se camufla, se disfarça, se fantasia e paquera discretamente os outros convidados. Discreta nada! A verdade é cara-de-pau e fica aí dando mole pra quem quer que passe. Olhou, levou. É que ela é tão direta que as pessoas se constrangem, acham que não é com elas. É sim. Acredite. A verdade é a mais fácil das abstrações: não precisa convencer, não precisa comprar flores, não precisa fazer nada, é só levar pra casa.
Ah, mentira. Precisa, sim, fazer o mais difícil: acreditar nela.

sábado, 10 de abril de 2010

O amor é assim como a sobremesa.

O amor é assim como a sobremesa. A sobremesa é o pecado da gula. Por que na hora da sobremesa, você já não está mais com fome. Já curou aquele mal-estar de quem tem o estômago vazio, e pode comer pelo simples prazer de comer, e não mais pela necessidade. E o amor é assim. É estar com alguém pelo simples prazer que esse alguém te faz sentir, e não pela necessidade desta pessoa. Ninguém ama por necessidade, embora haja a necessidade de amar.
Ok, ninguém vive sem o prato principal, isto é, aquilo que se come para matar a fome. A sobremesa, afinal de contas, não se come, se saboreia. O prato principal não. Ele, a gente come mesmo. Sem pudor, sem fingir que tem etiqueta. A gente come pra matar a vontade, saciar a fome, e momentâneamente preencher por inteiro o vazio que a gente sente por dentro.  A sobremesa vem depois, e mostra todas as deliciosas sensações que a comida pode proporcionar - quando a fome não atrapalha.