quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Rio da Vida

A vida é como um rio, suas águas nunca voltam. Nunca param. Nunca esperam. A pedra, que era rugosa e pontiaguda quando primeiro atirou-se ao rio, depois de muito seguir em suas águas, desponta no fim lisa e macia, de tanto que rolou pelo caminho.
Fixa teu olhar em um ponto do rio. Vê que nada, nunca muda. Mas a água que já passa, não passa mais de uma vez. A vida imita o rio. Ou será que o rio imita a vida?
Nascemos. Despontamos num mundo que não nos espera saber pedir para provocar-nos necessidade. E a cada queda, a cada baque, nós aprendemos a nos manter de pé. Por que se acaso cairmos, o mundo não para de girar para que possamos enfim nos levantar. E ficar sentado no chão não é para nós uma opção.
Aprendemos a amar. E aprendemos que o amor está mais em nós do que no outro. Aprendemos a nos deixar levar por essas águas, até que um tronco nos detenha no meio do caminho. Até que uma paisagem nos fascine. Até que resolvamos sair da água.
Apesar de qualquer coisa que surja pela frente, seguimos o fluxo. Nadamos nessas águas, que por vezes são escuras e frias, mas que também mostram-se claras e límpidas vez por outra. Aprendemos a prender o fôlego, quando percebemos que não voltaremos a superfície por tempos. Aprendemos a nos soltar de tudo o que nos prende, o que nos segura, o que não nos deixa seguir o caminho das águas.
Quando chegamos ao afluente, um grande lago onde tudo é azul e calmo, já estamos lisos. Macios. Menores. Toda a fascinação e surpresa de nossa infância já se esvaíram. Nossa coragem, nossos ideais e lutas da juventude, tudo isso já morreu. O que nos sobrou foi o contentamento. A certeza de já se estar muito velho para nadar contra a corrente. O medo de não agüentar a braçada. De não restar fôlego. De se desfalecer no meio de águas escuras onde ninguém irá saber te encontrar. E então permanecemos estáticos, olhando por cima da ponte.
Portanto, dá próxima vez que atirares pedrinhas no rio, lembre-se que em cada uma daquelas pedras há uma essência que não irá voltar. Há um quê de incomum que se perde nas águas do rio. Há uma vida que ficará modificada. Para sempre.