sábado, 7 de fevereiro de 2009

Deus

Se me fosse essencial definir, por algum modo ou ritual, uma crença ou religião, me parece muito mais lógico crer em Deuses, não em Deus.
A começar pelo fato de que me é muito difícil imaginar um só Deus que tenha o domínio sobre todas as coisas do mundo, que seja onisciente, onipresente e onipotente. Esse é um tipo de perfeição impossível, inexistente e incabível. Não acredito em um Deus que castigue, que não acolha, que pratique vingança, e principalmente, que segregue a todos que não crêem em si. Não quero um Deus que, mesmo certo e justo, apanhe do errado e injusto, e que ofereça a outra face, sem nunca revidar. Não, não quero este Deus.

“Quero um Deus que saiba dançar” dizia Nietzsche. Eu quero um Deus que dance. Quero um outro que cante. Quero um Deus que toque guitarra, um Deus que conheça os vícios do mundo e um que conheça o prazer que habita o fundo de um copo. Que conheça as viagens que se faz sem sequer sair do lugar. Quero um Deus que cometa erros, enganos. Quero um Deus que não tenha medo de admiti-los. Quero um Deus que ame profundamente, mas que ame um amor feito de carne e osso, e não de uma fé louca e sem graça. Quero que ele sinta ciúme, que deseje vingança, que grite a plenos pulmões. E então, são quinhentos outros Deuses que desejo. E cada um, um tanto maior, mais humano, mais real, mais perto de mim. Quero um Deus que seja possível.