- Um brinde - ele ergueu sua taça- à sua maioridade, e ao meu alívio!
- Engraçadinho - eu retruquei, fazendo muchocho.
- Agora você já é bem grandinha pra saber o que quer...
- Pra sair, beber, dirigir, abrir conta no banco...
- Assumir responsbilidades em tempo integral...
- Ai, essa parte eu não quero! Prefiro ser inconsequênte, assim - e dizendo isso, inclinei-me para frente, chegando bem perto de seu rosto. Olhos nos olhos, sem piscar. Acho que os lábios se tocaram, mas foi tão de leve que sairam pequenas faíscas, e eu me confundi. Me afastei e dei risada. Só podia.
-Bom - ele continuou, meio atordoado, talvez - então vou reformular meu brinde: à sua responsabilidade, de segunda a sexta. Cinco dias na semana.
-E a cada fim de semana irresponsável entre eles - eu completei.
Bebemos em poucos e grandes goles, rápido feito quem está com sede, não da bebida, mas um do outro. Depois foi a vez dele, que foi se inclinando para frente bem devagar. Estava calmo como quem sabe o que faz. Estava certo como quem faz o que quer.
Chegou perto. Mais perto. Perto demais.
-Se você chegar um pouquinho mais perto, eu não vou conseguir resistir...
- E por que você haveria de querer resistir a mim? - perguntou em seu tom usual, nada modesto.
- Só por que você resistiu a mim esse tempo todo.