terça-feira, 6 de outubro de 2009

Seja e Deixe Ser

Não. Por favor, não pare. Não se deixe distrair por meus olhos, que observam atentos cada movimento, nem por meu silêncio, que nada diz e tudo fala. É que gosto de ver os outros sendo.
Tão compenetrado fazendo qualquer coisa, alheio a todo o resto do mundo, que também está alheio a si. É curioso ver como as coisas, por mais interligadas que sejam, existes independentes. Se eu parar de existir, nada para de existir comigo, que não fosse previamente eu, ou meu.
Se eu parar de existir, as cores que vejo deixarão de ser vistas por mim também, mas a rosa continuará vermelha. Se eu parar de existir, os sonhos que tenho deixarão de ser meus sonhos, e serão por outro, sonhados. Se eu parar de existir, o lugar que ocupo no tempo e no espaço tornará-se vago, livre. Se eu parar de existir, meus olhos minhas mãos, meus sentidos também se apagarão. Os amores que sinto deixaram de ser meus amores, mas não tardarão a ser amados. Se eu parar de existir o mundo continuará existindo, tão ou igual ao meu, sem mim. O sol irá se levantar todas as manhãs, e milhares de pessoas se levantarão com ele. E darão início a um novo dia sem mim. E este dia passaria rápido, dando lugar a noite. Uma noite alegre. E o copo da bebida que tomava não deixará de ser usado, na mesma mesa de bar. Alguém se embriagará de meus pesares e se encontrará no fundo de um copo que já me serviu de lente também. E então, a lua irá se apagar, e os outros irão dormir o sono dos justos, para se levantar mais uma vez, para o novo dia que amanhece. E ninguém para ou repara, que anoite, no céu, uma estrela se apagou.
Meu passatempo preferido, quando estou no apartamento - como resistência à vontade de cuspir do quinto andar na cabeça de todos lá em baixo - é olhar pela janela. Vejo as pessoas indo e vindo, fazendo coisas, falando coisas, comendo coisas... Sendo. Gosto de ver os outros sendo.
Independente de mim ou do resto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sinta-se à vontade pra se intrometer no assunto! :)