sábado, 23 de janeiro de 2010

Perda de Tempo

Ultimamente tem sido difícil encontrar um dia de sol. Costuma amanhecer cinzento, a chuva cai no fim da tarde, seguida por uma noite fria. Chove também de madrugada e eu me encolho sozinha na cama, me esquivando a cada novo trovão.
Então, dizer que eu observava a chuva cair através da janela do carro, não seria novidade. Também não seria novidade dizer que eu estava presa no trânsito por conta de algum alagamento nas ruas da cidade. Novidade seria dizer que consegui chegar no horário no apartamento que ira visitar, nos arredores do Morumbi. Não consegui.
Impaciente dentro do carro, olhava para os lados, procurando alguma coisa. Encontrei. Num muro de concreto, um desenho de um homenzinho colorido que dizia "Você é escravo do trânsito". E isso, deus sabe, me irritou profundamente. Que é? Já não basta cair o mundo e ficar entalada entre um Fusca e um Uno, ainda vem o colega do muro tirar sarro da minha cara? Aí é demais! Talvez eu estivesse de TPM. Mas de qualquer maneira, aposto que você se sentiria ultrajado também.
Tentei me distrair e parar de pensar no homenzinho. Começei a contar há quantas horas estava presa naquele caos. Várias. Muitas horas. Puxa, o homenzinho tem razão. Eu estou realmente disperdiçando algo valioso aqui: meu tempo! Er, a bem da verdade, eu não tinha muita escolha. Mas passei então a pensar em quê outras coisas gastamos nosso tempo, de quê outras coisas nos tornamos escravos?
Gastamos tempo fazendo tarefas ingratas, das quais não gostamos, gastamos tempos em intermináveis filas no banco, procurando vaga no estacionamento, esperando pelo levador, aguardando na linha, reclamando com operadores de telemarketing, discutindo com o chefe, conversando com pessoas de quem não gostamos...
Nos tornamos escravos da rotina, da tecnologia, do computador, dos papéis sociais, das obrigações e das responsabilidades, escravos do trabalho, do dinheiro, do Homem...
Sei lá, talvez seja a hora de abaixar o vidro do carro e bater um papo com o motorista vizinho, de sair cantando na chuva, de tirar o telefone do gancho, desligar o computador, acordar mais tarde, e de fazer um melhor uso deste tempo que temos, que está, continuamente, em contagem regressiva.

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