terça-feira, 13 de julho de 2010

O que é, o que é?

O que pensamos que é entrega, e esquecemos que é renúncia. O que pensamos que é ganhar, e esquecemos que é merecer. O que pensamos que é eterno, e esquecemos que é diário. O que pensamos que é imenso, e esquecemos que é tão frágil.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Existem poucas coisas no mundo que são tão intragáveis quanto uma despedida. Como é difícil ver quem você ama indo embora; a distância entre seus corpos aumentando, aumentando, aumentando, até que só reste o silêncio.

domingo, 13 de junho de 2010

Para Sempre

Uma história de era uma vez onde não puseram um ponto final, e o foram felizes ficou solto, perdeu-se no eternamente.


É aquilo que diz quem tem medo de admitir a qualidade efêmera de certas coisas. É também o que 'sempre acaba' como dizem os céticos. É a invenção dos contos de fada, o status desejoso do permanente, a certeza eterna de estar completamente feliz. Ou um mero engano.
Existe sim algo para além do fim. Isso quando há um fim - pois certos casos, terminam sem ponto final. O pouco que sobra dessas histórias mal contadas, que permanece como resquício de uma verdade que já passou, e que hoje virou memória. Histórias que nunca terminam de verdade. É isso que chamamos de 'para sempre'.

sábado, 12 de junho de 2010

A vida sendo o que é - uma série de eventos interligados por um motivo ou outro - naturalmente nos distanciamos. O tempo passou, e nós fomos nos segurando em qualquer coisa que podíamos agarrar, até que a força que devíamos fazer para nos lembrar era muito maior do que a força que ainda tínhamos para usar. E então, nos esquecemos.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

êta esse sentimento burro, que não pede crédito pré-aprovado, e depois vem e nos assalta.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Encontraram-se e reconheceram-se. Não foi difícil perceber seus opostos e o modo com que se completavam. É claro que também tinham afinidades; afinações, e delas achavam a maior graça.
Ela gostava dos olhos dele, profundos e penetrantes, e do modo com que tamborilava os dedos impacientes, ou quando os mesmos dedos tocavam o baixo, na sua coxa.
Ele gostava dos carinhos, feitos de leve, pra provocar arrepios, e de como ela caia na gargalhada sem o menor pretexto, e não conseguia mais parar de rir. Ele disse nunca pensei encontrar uma mulher como você num lugar como este, ela sorriu lisonjeada. Ela falou que bom encontrar você no meio de tanta gente medíocre, ele sorriu envaidecido.
Era sempre de tarde. O fim de um dia lindo de sol. E aí a gente tinha um pouco de paz.
Quando a gente resolvia conversar, na maioria vezes saía um papo-cabeça. Às vezes era um papo sem-pé-nem-cabeça. De qualquer maneira, falávamos horas a fio. Falavamos sobre tudo. O clima, cinema e os planos para o futuro. O que eu faria para o jantar e como era sem graça a ordem natural das coisas. Divagávamos sobre legislação, literatura, licor de cassis e outras loucuras particulares. Era quentinho, naquela fresta de sol onde nos colocávamos, sentados lado a lado. Ou mesmo quando eu me deitava em seu colo, e ficava com os olhos pregados no além. Ele passava seus dedos entre os cachos de cabelo que caiam sobre meu ombro e eu recobrava a consciência e erguia o rosto, só para vê-lo melhor.
Um dia, essas tardes passaram a acontecer naquele período depois das cinco da tarde. Ainda era de tarde, mas o sol já havia sumido, e o céu não tinha mais aquela cor bonita da meia hora anterior. O assunto ficava meio raro, pois nessa hora do dia, hipnotizada pelo céu azul escuro, eu ficava meio quieta, e ele parecia entediado. Ainda falavamos, entretanto, sobre o clima: estava frio. Ventava de leve e meu cabelo ficava todo embaraçado. Era impossível para ele embrenhar seus dedos naquele emaranhado de nós. Eu era obrigada a vestir um casaco, e não importa o quanto eu me inclinasse, não dava para ver melhor: já estava muito escuro.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Alice in Underground

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Eu Alice,

Posso pensar em seis coisas impossíveis antes do café da manhã.
Um: Se eu não pensar muito neles, os meus problemas vão desaparecer;

Dois: Se eu ficar bem quietinha, posso ficar invisível, até que alguém note a minha falta.

Três: Se eu ignorar as pessoas que me irritam, elas param de me irritar e vão embora.

Quatro: Se eu esperar e for paciente, o que eu tanto quero vai finalmente acontecer.

Cinco: Se eu me encontrar com as meninas pontualmente às sete horas para tomar café, vou ter sempre certeza de que tudo está exatamente onde deveria estar, e tudo ficará bem.

Seis: Se tudo der errado hoje, posso deitar na cama, e fechar os olhos. Posso dormir e acordar amanhã, e pensar em outras seis coisas impossíveis pra fazer.

Chapeleiro Maluco,

- O tempo não fez mais tique nem taque, e eu fiquei aqui parado, esperando você voltar. Você era sempre pequena demais ou grande demais. E você foi embora. Agora você está aqui, e está no tamanho certo. Não pode ir embora agora.

Alice no País das Maravilhas

Qual é a diferença entre um corvo e uma escrivaninha?

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Juro que o que eu mais queria é relevar o sentimento e me entregar, não só de corpo, mas de alma também. Queria ser um filtro dos sentimentos bons, ainda que superficiais e dos pensamentos leves, ainda que fúteis.
Queria ter paciência para tentar me entender e desvendar o que se passa dentro de mim. Seria muito mais fácil. Eu não ficaria deitada na cama, semidesnuda, pensando em aleatoriedades idiotas enquanto o outro ao meu lado tenta entender o que é que há de errado comigo. Eu não precisaria me preocupar com o que escrevo e com quem me lê. Só escreveria. Só seria lida. E não precisaria ficar me preocupando com palavras e sons e cheiros e propósitos que parecem ser, e que são outros. Eu queimaria o papel, acabando com a mensagem subliminar. Nada de entrelinhas para mim. A linha que me contorna é a que você vê, e só.
Pode tocar, se quiser. Não vai mudar o sentido. É sempre a mesma. Eu mesma. Mas essa teoria é impraticável e eu fico aqui, sentada no chão feito criança contrariada me perguntando o que é que aconteceu. Entre quatro paredes mudas meu silêncio fica audível, e soltos, os pensamentos se confundem. O que eu quero mesmo é gritar em voz alta. Eu quero você. Só às vezes a putaria vence a gente pelo cansaço, e a carne, você bem sabe, é fraca. Aí eu me entrego só de corpo mesmo, e peço pra alma fechar os olhos.

domingo, 2 de maio de 2010

- Um brinde - ele ergueu sua taça- à sua maioridade, e ao meu alívio!

- Engraçadinho - eu retruquei, fazendo muchocho.

- Agora você já é bem grandinha pra saber o que quer...

- Pra sair, beber, dirigir, abrir conta no banco...

- Assumir responsbilidades em tempo integral...

- Ai, essa parte eu não quero! Prefiro ser inconsequênte, assim - e dizendo isso, inclinei-me para frente, chegando bem perto de seu rosto. Olhos nos olhos, sem piscar. Acho que os lábios se tocaram, mas foi tão de leve que sairam pequenas faíscas, e eu me confundi. Me afastei e dei risada. Só podia.

-Bom - ele continuou, meio atordoado, talvez -  então vou reformular meu brinde: à sua responsabilidade, de segunda a sexta. Cinco dias na semana.

-E a cada fim de semana irresponsável entre eles - eu completei.

Bebemos em poucos e grandes goles, rápido feito quem está com sede, não da bebida, mas um do outro. Depois foi a vez dele, que foi se inclinando para frente bem devagar. Estava calmo como quem sabe o que faz. Estava certo como quem faz o que quer.
Chegou perto. Mais perto. Perto demais.

-Se você chegar um pouquinho mais perto, eu não vou conseguir resistir...

- E por que você haveria de querer resistir a mim? - perguntou em seu tom usual, nada modesto.

- Só por que você resistiu a mim esse tempo todo.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

-Eu te amo.

-Não, não ama.

-Amo! Amo sim!

-Não me ama nada...

-É claro que te amo!

-Se amasse mesmo, eu saberia.

-E o que é que eu posso fazer pra te provar?

-Você  pode começar por me chamar pra sair...

- Não chamei por que achei que minha chance era mínima.

-Mesmo mínima, ainda assim é uma chance. Por que você não tenta?

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Tout Va Bien

Não demorou muito e os assuntos entre nós começaram a se repetir. Daí à ficarmos sem assunto nenhum, foi um pulo. Depois, veio o silêncio, e aí, já nem precisávamos mais conversar.
Eramos como o pão velho em cima da mesa. Além dele, das paredes e do carpete, nós também estávamos mofando, sem pressa, como a chuva que caía ha três dias, e escorria vagarosamente do outro lado da janela.
Era estranho não ter assunto entre duas pessoas que nunca ficavam quietas, que tinham uma vida inteira em comum. Será que o amor tinha acabado? A resposta até existia, mas morava alí, naquele silêncio incômodo e ardido aos meus ouvidos.
E em silêncio ficamos, assim, nos olhando. Olhos nos olhos e o silêncio todo ao redor. Estiquei minhas mãos sobre a mesa da sala de jantar, mas estavamos muito distantes, inclusive de nós mesmos. E simples assim, nós já sabíamos o que viria a seguir.
Mais tarde, na cama, virei-me para o lado e desejei-lhe boa noite. Ele desligou a t.v. e caimos no sono. Eramos um casal com cara de domingo.