quarta-feira, 9 de junho de 2010

Era sempre de tarde. O fim de um dia lindo de sol. E aí a gente tinha um pouco de paz.
Quando a gente resolvia conversar, na maioria vezes saía um papo-cabeça. Às vezes era um papo sem-pé-nem-cabeça. De qualquer maneira, falávamos horas a fio. Falavamos sobre tudo. O clima, cinema e os planos para o futuro. O que eu faria para o jantar e como era sem graça a ordem natural das coisas. Divagávamos sobre legislação, literatura, licor de cassis e outras loucuras particulares. Era quentinho, naquela fresta de sol onde nos colocávamos, sentados lado a lado. Ou mesmo quando eu me deitava em seu colo, e ficava com os olhos pregados no além. Ele passava seus dedos entre os cachos de cabelo que caiam sobre meu ombro e eu recobrava a consciência e erguia o rosto, só para vê-lo melhor.
Um dia, essas tardes passaram a acontecer naquele período depois das cinco da tarde. Ainda era de tarde, mas o sol já havia sumido, e o céu não tinha mais aquela cor bonita da meia hora anterior. O assunto ficava meio raro, pois nessa hora do dia, hipnotizada pelo céu azul escuro, eu ficava meio quieta, e ele parecia entediado. Ainda falavamos, entretanto, sobre o clima: estava frio. Ventava de leve e meu cabelo ficava todo embaraçado. Era impossível para ele embrenhar seus dedos naquele emaranhado de nós. Eu era obrigada a vestir um casaco, e não importa o quanto eu me inclinasse, não dava para ver melhor: já estava muito escuro.

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