quarta-feira, 18 de junho de 2008

Água Viva

Ela queria apoderar-se de tantas coisas... Eu não. Queria somente o fluxo. Queria senti-lo passando por cada parte de mim. Passando e levando consigo o que se há para absorver. E é justamente quando um pensamento solto é pego de surpresa. É só isso que eu queria. Mas ela não. Queria tantas outras coisas, e instantes, e intensidades. Queria uma eternidade, uma infinidade, e o fim. Se ela queria; queria e ponto. Mas, tampouco eu queria só o fluxo, e verdade seja dita. Queria o fluxo e a genialidade, queria o fluxo e a essência, queria a genialidade. Queria o fluxo e o perfume, queria o olhar e a presença de Clarice Lispector.

Mas não tive. Nem mesmo o fluxo. Num instante estava, e no outro já se fora. Sabe, não deve ser fácil viver de instantes-já. Quando se tem a consciência de vivê-los, já se foram. Então, deixo-a com os instantes-já da vida, e vivo eu de pausas. E assim, vou saboreando o tempo ao máximo, e posso ver minimamente o bater das asas de um beija-flor pelo vidro do jardim de inverno.

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